segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Aurora

de Dani Black                
canta  Maria Gadú         

Só você não viu             
Quanta aurora                      
Eis a hora                                   
Em que você me beijou      
Só você não viu                       
Ir embora                                   
Mundo afora                                  
O que um dia me partiu                   

E você sorriu...                                  
Um gosto de amora fincou na dor    
Tão livre pra ser o que sou.         

Sendo assim,                         
sem demora                               
pra me sentir           
como agora                    
Tão sem fim                         
tão melhor                        
o maior                          
sobre mim              

Tão feliz que sou                  
Só resta a mim cantar o amor.                      


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Minha Grande Ternura


de Manoel Bandeira


Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura

Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura

Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura

Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura

Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo. 

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sábado, 2 de julho de 2011

Convite à Tristeza

de Teresa Cristina

Vou convidar minha tristeza pra dançar
A noite inteira eu vou rodar
Ver nos meus braços ela amolecer

Depois, refeitas
Um café eu vou pedir
E se ela me sorrir
Mil galanteios sei que vou dizer

A noite inteira farei ela gargalhar
Dizendo coisas que até mesmo Deus duvida
E aí então
Quando ela se apaixonar

Desapareço, num piscar
Da sua vida

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Altar Particular

de Maria Gadú



Meu bem
que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular


Sei lá,
a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal







E então,
tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós


Depois,
que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós


Se enfim,
você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser


Ou então,
dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer




Teu cais
deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor





Sem mais,
a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio
esperando a resposta ao que chamo de amor.

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Medo de Amar

Adriana Calcanhoto

Você diz que eu te assusto
 Você diz que eu te desvio
Também diz que eu sou um bruto
E me chama de vadio
Você diz que eu te desprezo
Que eu me comporto muito mal
Também diz que eu nunca rezo
Ainda me chama de animal

Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo é do amor
Que você guarda para mim
Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo de você
Você tem medo de querer?

Você diz que eu sou demente
Que eu não tenho salvação
Você diz que simplesmente
Sou carente de razão
Você diz que eu te envergonho
Também diz que eu sou cruel
Que no teatro do teu sonho
Para mim não tem papel

Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo é do amor
Que você guarda para mim
Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo de você
Você tem medo de querer
Me amar.