terça-feira, 18 de junho de 2013

Cântico Negro


(José Régio)


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!



 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Slipping Through My Fingers

ABBA

Schoolbag in hand, she leaves home in the early morning
Waving goodbye with an absent-minded smile
I watch her go with a surge of that well-known sadness
And I have to sit down for a while
The feeling that I'm losing her forever
And without really entering her world
I'm glad whenever I can share her laughter
That funny little girl
Slipping through my fingers all the time
I try to capture every minute
The feeling in it
Slipping through my fingers all the time
Do I really see what's in her mind
Each time I think I'm close to knowing
She keeps on growing
Slipping through my fingers all the time
Sleep in our eyes, her and me at the breakfast table
Barely awake, I let precious time go by
Then when she's gone there's that odd melancholy feeling
And a sense of guilt I can't deny
What happened to the wonderful adventures
The places I had planned for us to go
(Slipping through my fingers all the time)
Well, some of that we did but most we didn't
And why I just don't know
Slipping through my fingers all the time
I try to capture every minute
The feeling in it
Slipping through my fingers all the time
Do I really see what's in her mind
Each time I think I'm close to knowing
She keeps on growing
Slipping through my fingers all the time
Sometimes I wish that I could freeze the picture
And save it from the funny tricks of time
Slipping through my fingers
Slipping through my fingers all the time
Schoolbag in hand she leaves home in the early morning
Waving goodbye with an absent-minded smile
http://letras.terra.com.br/abba/180873/

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Aurora

de Dani Black                
canta  Maria Gadú         

Só você não viu             
Quanta aurora                      
Eis a hora                                   
Em que você me beijou      
Só você não viu                       
Ir embora                                   
Mundo afora                                  
O que um dia me partiu                   

E você sorriu...                                  
Um gosto de amora fincou na dor    
Tão livre pra ser o que sou.         

Sendo assim,                         
sem demora                               
pra me sentir           
como agora                    
Tão sem fim                         
tão melhor                        
o maior                          
sobre mim              

Tão feliz que sou                  
Só resta a mim cantar o amor.                      


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Minha Grande Ternura


de Manoel Bandeira


Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura

Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura

Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura

Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura

Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo. 

. ....................................................................................

sábado, 2 de julho de 2011

Convite à Tristeza

de Teresa Cristina

Vou convidar minha tristeza pra dançar
A noite inteira eu vou rodar
Ver nos meus braços ela amolecer

Depois, refeitas
Um café eu vou pedir
E se ela me sorrir
Mil galanteios sei que vou dizer

A noite inteira farei ela gargalhar
Dizendo coisas que até mesmo Deus duvida
E aí então
Quando ela se apaixonar

Desapareço, num piscar
Da sua vida

.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Altar Particular

de Maria Gadú



Meu bem
que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular


Sei lá,
a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal







E então,
tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós


Depois,
que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós


Se enfim,
você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser


Ou então,
dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer




Teu cais
deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor





Sem mais,
a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio
esperando a resposta ao que chamo de amor.

.